Fogo e água aqui se apresentam numa junção impossível em mutantes paisagens atravessadas por elementos humanos e não-humanos. As filmagens, feitas durante a Residência Barda del Desierto foram feitas com câmeras mergulhadas em um canal de águas patagônicas de degelo, que misturam-se às imagens do fogo que foi companheiro assíduo nas noites desérticas da província de Río Negro, Argentina. Os territórios demarcados por nomes históricos em língua hispânica podem ganhar outros sentidos quando os captamos apenas sensorialmente, com foco nas transformações de seus estados físicos? A materialidade, a textura, a cor, o borrão do que vemos por intermédio das câmeras podem eximir as imagens das narrativas coloniais? As imagens captadas podem borrar camadas de opressão aos indígenas massacrados naquela região?
*AQUAFOGOFORSIS é de 2018 e foi exibido no mesmo ano na mostra da residência artística Barda del Desierto em Río Negro, na Argentina.
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Marina Mayumi é artista visual, professora e pesquisadora. Doutora e Mestre em Educação pela Unicamp. Participante do Grupo OLHO – Laboratório de estudos audiovisuais. Sua tese aborda a relação entre cinema e educação a partir de propostas no campo do cinema expandido. Buscando evidenciar o território a partir de seus múltiplos atravessamentos sociais, culturais e as diversas camadas de sentidos nele presentes e pela artista deflagrados, sua investigação artística se dá por meio de diferentes linguagens: mapas afetivos, fotografia, vídeo, performance e intervenção urbana. Participou das residências artísticas: So on and so forth – Valparaíso, Chile, Curatoría Forense, 2012; Residencia Barda del Desierto #1 e #4, Rio Negro, Argentina, 2015 y 2018; Residência Arkane, Casablanca, Marrocos, 2019. Participou de mostras coletivas na Argentina, Espanha e Brasil.