Workshop Empoderador e Feminista Realizado por Homens Fotógrafos

Workshop Empoderador Feminista Realizado por Homens Fotógrafos faz parte de uma série de trabalhos que questionam a manipulação do feminino enquanto imagem e objeto dentro da fotografia, especificamente a sexualidade e nudez da mulher retratada. Esta performance é uma crítica ao assédio sexual no meio fotográfico e à apropriação da fala feminina dentro de projetos, e assim um apagamento das profissionais do ramo, além da vulnerabilidade das modelos. E como algo cultural, que como um ensinamento passa de pessoa para pessoa, a performance é um “workshop”.

Frases ditas no vídeo, costumeiramente ouvidas por modelos de nú artístico durante ensaios fotográficos, coletadas através de pesquisa pública:

Desculpa, mas tu é tão gostosa, fica difícil focar na foto.
Tudo bem se eu ficar sem camiseta, quero ficar a vontade contigo.
Aquela é novinha, eu adoro novinhas.
Você é minha cadelinha.
Achei que você fosse mais desinibida.
Abre mais a perna.
Se você contar pra alguém, eu te fodo.
Você não é lésbica, é porque ainda não encontrou um homem de verdade.
Você precisa provar na cama antes de passar nesse teste.
Você me dá tesão.
Você está vestida de freira, um dos meus fetiches é molestar uma freira, contra sua vontade.
Eu preciso que você me manda fotos amadoras, nuas, antes de se inscrever nesse casting.
Abre ela pra mim.
Você pode tirar foto da sua vagina e mandar pra mim? Só pra eu ver se você faz o tipo deste trabalho.
Você pode se depilar? Eu não gosto de mulheres peludas.
Você tem um rosto muito bonito, pena que é gorda.
Você vai ver o que um “eu te amo” olhando nos olhos é capaz.
Eu tenho uma lista de contato que todo homem queria ter.
Chamou de lindão, deu brecha.
Você escolhe se proteger ou se expor.
Eu não corro atrás de modelo.
Você gosta de sexo forçado?
Desculpa, eu não fotografo gordas.
Levanta mais o peito.
Posso passar esse óleo no seu corpo?
Eu quero deixar sua buceta bem a mostra.
Eu só fotografo você se você dormir aqui depois.
Vou te enforcar de verdade.
Se eu te pagar 300 reais, você me faz um boquete?
Eu posso tocar no seu corpo? É apenas por uma questão cênica.
Eu não a estuprei, ela apesar de bêbada, também queria.
Fotógrafas mulheres não sabem fotografar outras mulheres.
Eu só fotografo mulheres que me dão tesão.
Eu te fotografo, mas é só eu e você…você não pode levar ninguém.
Eu adoro branquinhas como você…marca fácil.
Você quer ver meu pau?
Você pode trazer aquela sua amiga pro ensaio? Assim fazemos a 3.
Não tenho interesse em fotografar lésbicas.
Você é muito masculina.
Seu corpo é muito estranho.
As gordas que fotografo são cota.
Arreganha pra mim.
Abra mais a sua bunda, por favor.
Eu achei que você era mais gostosa pessoalmente.
Não consigo focar na foto olhando pra você.
Deliciosa.
Eu adoraria te fotografar mas negras não combinam com o tipo de luz que trabalho.
Pelas suas fotos…você é garota de programa, não é?
Você é muito velha para o tipo de trabalho que eu faço.
Você é desinibida assim também na cama?
Empina mais a bunda.
Eu faço mulheres se sentirem mais fortes com o meu trabalho.
Eu só fotografo gordas pra não dizer que sou preconceituoso, porque elas são péssimas, além de feias ficam cobrando fotos depois.
Se eu não tivesse te descoberto, você não seria nada.
Fotógrafas mulheres só causam intrigas com modelos.
Eu tenho fetiche em transar com modelos.
Você nem é tão bonita assim, eu estou fazendo um grande favor em te fotografar.
Eu posso tirar umas fotos com a minha mão na sua bunda? Só para postar no instagram.
Você tem menos de 18? Eu adoro ninfetas, nós poderíamos fazer essas fotos e ninguém ficaria sabendo.
Me seduz.
Eu faria um filho em você.
Pode colocar o dedo pra mim…
Você me olhando assim…tenho certeza que quer que eu te coma.
Faz uma cara de safada, imagina minha piroca na sua boca.
Seus seios são lindos, ficariam melhores sem sutiã.
Você pode ficar de quadro pra mim?
Você poderia abrir seu cú pra mim?
Eu posso tocar no seu seio?
Bebe um pouco, pra ficar mais fácil.
Eu só fotografo novinhas.
Seu seio tem um formato estranho, você tem problema?
Vou bater com essa corda de shibari na sua bunda.
Se a gente tiver uma relação mais íntima, eu te indico pra trabalhos.
Coloca o dedo na boca.
Se você contar para alguém o que aconteceu aqui, eu sou influente e posso te prejudicar.
Quer que eu tire a minha blusa pra você ficar mais a vontade?
Você pode fazer uma escova antes do ensaio? Eu não gosto de cabelos crespos.
Ninguém vai acreditar em você se você contar o que aconteceu aqui, porque eu sou famoso e você não.

*Antes de Luiza Prado iniciar-se nas artes através da fotografia, em 2010, ela foi modelo e passou por experiências de assédio ao ser fotografada. A performance Workshop Empoderador Feminista Realizado por Homens Fotógrafos foi criada depois que vieram à tona uma série de denúncias feitas por modelos de fotógrafos abusadores. Na época, a artista se juntou à modelos para montar um grupo de denúncia de abusos sexuais e estupros no Facebook, que resultou em ameaças feitas justamente por esses fotógrafos. Como as ameaças foram ficando cada vez mais intensas, o grupo teve que ser deletado para segurança da artista e das modelos. A partir daí, Luiza passou a abordar o tema do estupro na fotografia dentro de seu trabalho artístico. A artista utilizou o formato “workshop” e o termo “empoderador” por ambos serem bastante recorrentes no universo da fotografia na época (especificamente entre 2014 a 2016), sendo que 90% destas iniciativas eram encabeçadas por homens, 80% deles abusadores. A performance Workshop Empoderador Feminista Realizado por Homens Fotógrafos nunca foi realizada de forma pública. Na ocasião em que ela seria apresentada, em uma instituição cultural importante em São Paulo, foi impedida de acontecer por restrições institucionais ligadas à questões jurídicas. Isso porque a proposta de Luiza envolve a simulação de um workshop, com divulgação específica e realização de inscrições. Durante a realização do workshop/performance, homens fotógrafos seriam recebidos pela artista em poses obscenas e os áudios das frases de abuso em alto e bom som. Luiza ainda pretende realizar a performance publicamente. O vídeo do Workshop Empoderador Feminista Realizado por Homens Fotógrafos, realizado no estúdio da artista em Berlim/Alemanha, já foi exibido no Atelier Georgia Halal (São Paulo) em 2017, durante a exposição Vagyna Dentada. Tanto a performance quanto o vídeo são de 2016.

Hifa Cybe (Luiza Jesus do Prado, 1988, Guaratinguetá) é uma artista transdisciplinar cuja pesquisa artística e poética envolve sexualidade e trauma, problemas psiquiátricos e neurológicos, sob uma perspectiva anticolonial e anticapitalista. Em 2014, ela ocupou uma residência artística no Museu de Arte Contemporânea de Bogotá, quando teve seu trabalho “Gula” incorporado ao acervo. Participou da Mostra Performatus (Cia Excessos, 2017), do projeto “Presença Permeável” (Paço das Artes, 2017) e do Pacific Standart Time/LA (Museu de Anaheim, 2017) com o projeto “We The People”, obra que mais tarde foi exibida na Bienal Internacional de Casablanca (Marrocos) e II Bienal de Fotografia e Vídeo de Shangai. Em 2018, ela participou da Off Biennale Cairo (Egito). Participou de exposições coletivas pela América Latina, Europa, América Cental e América do Norte.