Floresta-casa derrubada (a última maloca do fim do mundo)

Se ocê num tá lembrado
Dá licença deu contá
Aqui mermo donde tá esse prédião
Essa rua e esses carro
Aqui onde eu e ocê respira
Fumaça, fulige, poluição
Onde nós desvia do esgoto
De lixo, barata e ratazana
Aqui mermo onde pisamo
Aqui mermo, neste chão
O sinhô, a senhora
Nunca haverá de imaginá
Aqui mermo antigamente
Era uma inorme floresta
Mas veio os homis c’oas ferramenta
E pois-se a derrubá…
Angelim, Castanheira, Itaúba
Pau-Ferro, Peroba, Massaranduba
Jatobá, Jacarandá, Acaiacá
Imbuia, Andiroba, Jacareúba
Adoniran deve se alembrá!
Caíram estrupiáda,
Angico, Mogno, Araribá
Pau-pereira, Ipê, Jatobá
Pau-Brasil foi o primêro a escassá
E adepois de tudo isso
O Derrubadô Brasilêro 
Ao lado do toco da úrtima árvore
sentô numa pedra dura
pra pitá e descansá
Meida Júnior taí pra prová
 
E assim poco a poco
Ajudemo o fim de mundo
Se apressá
Ia quase a me esquecê
No meio da floresta antiga
Havia uma grande maloca
Era aqui mermo
Onde esse prédio arto pisa pra se aprumá
Embaixo desses pé de cimento
Estava, meu sinhô e mi´a sinhá
Antes do aquecimento globar
Uma saudosa maloca, donde sô oriundo
Sardade daquele lugá
Da rede de dormir e sonhá
Do moquém a comida esquentá
Do paneiro cheio de fruta
Lá nós passemo os dias feliz de nossas vida
A Floresta-Casa derrubada
Ocês num deve de se alembrá
A maloca na mata bruta
Da última morada do fim do mundo
Dantes do céu desabá
Hoje por homis vencida
A última maloca do fim do mundo
Donde nós passemo 
Os dias feliz de nossas vida
Donde nós passemo
Os dias feliz de nossas vida

*O vídeo Floresta-casa derrubada (a última maloca do fim do mundo) foi produzido em 2021 em Niterói, durante o lockdown provocado pela pandemia do Covid-19. Foi publicado somente no canal do artista no YouTube. Maloca é um tipo de habitação comunitária utilizada por alguns dos povos originários da região amazônica, notadamente na Colômbia e Brasil.

Denilson Baniwa (1984), do povo indígena Baniwa é natural de Mariuá, Rio Negro, interior do Amazonas. Atualmente reside em Niterói, Rio de Janeiro. É artista-jaguar e comunicador do Movimento Indígena Amazônico. Seus trabalhos expressam sua vivência enquanto Ser indígena do tempo presente, mesclando referências tradicionais e contemporâneas indígenas e se apropriando de ícones ocidentais para comunicar o pensamento e a luta dos povos originários em diversos suportes e linguagens como canvas, instalações, meios digitais e performances. Hoje Baniwa consolida-se como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional.