O NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BAUHAUS DESSAU
03.12.2016
O encontro estava marcado para às 7:45 e às 8 horas partimos de Halle em sentido a Weimar. A excursão organizada pela Universidade Burg Giebichenstein foi oferecida a seus estudantes internacionais no mesmo dia de aniversario de um dos prédios da Bauhaus, faculdade de arte e arquitetura mais influente, radical e experimental do século XX. No miniônibus, os estudantes, em sua maioria de comunicação e design e alguns outros de arte, provem de vários países e são cerca de 20: um sírio, algumas russas, coreanos, um chinês, um italiano, duas guias alemãs, entre outros.
Depois de quase uma hora e meia desembarcamos em Weimar. O ônibus nos deixou em um estacionamento e seguimos caminhando em direção ao centro da cidade. Logo chegamos ao Bauhaus Museum, o primeiro museu da Bauhaus. Em Weimar, além do Museu, existe e esta em funcionamento a Faculdade Bauhaus, mas visitamos apenas o Museu. A escola foi nomeada Bauhaus em 1919 por Walter Gropius, quando este foi destinado ao cargo de diretor e modificou seu nome. Anteriormente a escola se chamava algo como “Escola de arte do Condado da Saxônia” (em tradução livre). O então novo diretor reuniu uma série de artistas e mestres e em oposição à antiga direção, que presava as técnicas artesanais na criação de objetos de design e obras de arte, incentivou a experimentação artística relacionada ao funcionalismo e à indústria, segundo o texto expositivo traduzido pro inglês, “Arte e tecnologia”.
Uma vez dentro do museu, vê-se obras de arte como pinturas, esculturas, objetos de design como uma “cadeira de cozinha” de madeira, jarras, brinquedos, posters, etc; e documentação textual e fotográfica sobre a história da Bauhaus.
Infelizmente, como a extrema direita ganhou as eleições na região de Turinga, a Bauhaus em Weimar funcionou a partir de 1919 e logo em 1926 foi transferida para Dessau, na regiao da Antiga-Saxonia e mais tarde também inaugurou um prédio em Berlin.
E foi também pra Dessau que a minha excursão rumou.
Se Weimar ainda tinha um certo ar Romantico-Ghoetiano sendo que além do Museu da Bauhaus visitamos brevemente a Casa de Schiller, Dessau e composta basicamente por Conjuntos Habitacionais (Plattenbau) e industrias. Ao chegarmos na Bauhaus de Dessau, que foi projetada pelos próprios arquitetos da Bauhaus, nos apresentamos na recepção e uma guia nos deu as boas vindas. Ela iniciou nosso tour pedindo ao grupo que retornássemos para fora do prédio, para observarmos a arquitetura e quando já estávamos do lado de fora, chamou nossa atenção pelo abundante uso de vidro feito pelos arquitetos e a possibilidade deste material aparentemente não fechar o espaço. Desta entrada principal onde estávamos podíamos ver dois prédios unidos por uma “ponte”. O prédio que víamos a nossa direita, pelo que ela explicou, era onde estavam os alojamentos, o refeitório, o palco, salas expositivas, etc. E o que víamos a esquerda eram os ateliês de arte e tecnologia. Dentre as salas que podia ver-se na ponte que liga os dois prédios, a sala central era a o diretor.
Ainda de fora do prédio ela nos conduziu para a parte de trás de onde era o alojamento estudantil, e nos mostrou as pequenas varandas (por volta de 3m cúbicos) dos quartos dos estudantes e sua função de facilitar a comunicação entre eles. Nos mostrou uma foto de uns 20 estudantes reunidos em cena célebre numa única varanda. Novamente, nos dirigimos para dentro do prédio, e por uma passagem lateral tivemos acesso a um dos sofisticadíssimos quartos dos estudantes, com direito a telefone, uma boa mesa de madeira, uma cama, uma bela lâmpada e um lavabo. Voltamos para a entrada e subimos um lance de escada e a guia nos chamou a atenção, para um aquecedor prateado em uma posição inusitada. Geralmente a altura onde se colocaria um quadro, pudemos ver o aquecedor, um objeto de importância ímpar para um morador de um pais frio como a Alemanha.
No primeiro andar, uma exposição em uma ante sala sobre a historia da Bauhaus-Dessau, uma maquete, textos e mapas. Visitamos então a exposição permanente. Chamou-me a atenção a quantidade de pecas em arte textil e “light art” dentre as outras maravilhosas pinturas, objetos, esculturas e mobiliários.
Ao seguirmos para o segundo andar, pudemos ver réplicas da famosa cadeira de metal e couro desenhada por Marcel Breuer e uma parede de vidro. Uma vez de volta ao térreo pudemos rapidamente entrar no teatro. Tivemos que ser breves pois técnicos ajustavam a iluminação de espetáculo que iria começar mais tarde como um dos eventos de comemoração por ser o dia do aniversario do edifício.
Tendo então sido construída em 1926, logo em 1933 a Bauhaus foi fechada pelos nazistas. Foi reconstruída em 1976 e em 1996 transformada em patrimonio pela Unesco.
E chegava ali o fim de nossa excursão.
Duane Bahia Benatti, São Lourenço MG, 1983, vive e trabalha em Halle, Alemanha. Graduado em Artes Visuais pela FAAP em 2010, São Paulo, atualmente mestrando em Ceramica pelo Burg Giebichenstein, Halle. Em 2013 recebeu o prêmio da Mostra de arte da juventude do SESC Ribeirão Preto. Em 2012 foi contemplado com a Beca de Arte da Fundación Tres Pinos de Buenos Aires. Recentemente teve trabalhos e projetos selecionados para coletivas incluindo International Ceramics Trienale Unicum, Liubliania, Eslovenia; Talente Preis, Munique, Alemanha; e Bienal de Artes de Cerveira, Portugal.