I miss you fala da devastação do feminino, encabeçada pelos que buscam poder. O círculo de fogo faz referência à rituais pagãos mas também à queima de mulheres pela Inquisição da Igreja Católica. O fogo é alimentado por 9 folhas de papel, como as 9 fases da Lua, preeenchidas com nomes de mulheres vítimas de feminicídio. Em meio à natureza e sua energia vital, um corpo feminino habita esse círculo de fogo, vestindo uma coroa e uma faixa de miss com a frase I miss you estampada. “O lugar de aceitação do feminino, e não o lugar em que eu queria estar.” A pose adotada foi assimilada das figuras de deuses em pinturas, estatuetas e símbolos. Na mão, uma chaga em formato de vagina. “I Miss You, nós sentimos a falta de vocês.”
Criação e edição | Hifa Cybe
Captação de vídeo | Walter de andrade
*A performance I miss you é de 2017 e foi inspirada pelo momento do impeachment de Dilma Rousseff e o machismo estrutural de nosso sistema político: homens podem ser maus gestores mas jamais terão sua sexualidade escrutinada, nem sua beleza questionada. A faixa utilizada pela artista na performance, portanto, faz referência à ambas as faixas: à presidencial e à de miss. O registro da performance aconteceu no bairro Gomeral, em Guaratinguetá, e foi apresentado uma única vez, em 2020, no projeto Covid-19 Artist Stories nas mídias sociais do Building Bridges Art Exchange, localizado em Los Angeles.
Hifa Cybe (Luiza Jesus do Prado, 1988, Guaratinguetá) é uma artista transdisciplinar cuja pesquisa artística e poética envolve sexualidade e trauma, problemas psiquiátricos e neurológicos, sob uma perspectiva anticolonial e anticapitalista. Em 2014, ela ocupou uma residência artística no Museu de Arte Contemporânea de Bogotá, quando teve seu trabalho “Gula” incorporado ao acervo. Participou da Mostra Performatus (Cia Excessos, 2017), do projeto “Presença Permeável” (Paço das Artes, 2017) e do Pacific Standart Time/LA (Museu de Anaheim, 2017) com o projeto “We The People”, obra que mais tarde foi exibida na Bienal Internacional de Casablanca (Marrocos) e II Bienal de Fotografia e Vídeo de Shangai. Em 2018, ela participou da Off Biennale Cairo (Egito). Participou de exposições coletivas pela América Latina, Europa, América Cental e América do Norte.