DUANE visita: PROMPRYLAD

PROMPRYLAD WORKSHOP

por Duane Bahia Benatti em colaboração com Duygu von Kaban, Elvia Wilk e Irina Kostyshina

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É possível transformar um antigo complexo industrial soviético em um espaço criativo e trazer desenvolvimento socioeconômico-cultural para a população sem gentrificação?

Esta foi a principal questão condutora dos 14 dias do Workshop “Promprylad – patrimônio Industrial”. Promprylad é uma fabrica localizada em Ivano Frankivsk, Ucrânia, e tem mais de 100 anos de historia, dentre os quais atendeu vários propósitos. Em seu passado conteve maquinário industrial para produção de termômetros de gás, artigos eletrônicos, guarda-chuvas, peças para carro e outros itens. Alguns maquinários estão desativados, mas outros ainda atendem a demanda da região.[1]

Por ser um legado, sua historia propicia informações importantes sobre a área ao redor do centro de Ivano-Frankivsk. O complexo industrial foi uma referência para a engenharia mecânica e um símbolo de esperança e nostalgia para boa parte da população. Atualmente algumas partes da fábrica estão sendo usadas por bandas de rock para ensaios musicais, outras são oficinas e uma parte pertence a uma companhia privada. A nova geração de Ivano-Frankivsk esta faminta por cultura, falta na cidade um ponto de encontro moderno com uma programação dinâmica e multicultural com infraestrutura tecnologia e moderna. Os moradores jovens não querem que Promprylad vire outra relíquia abandonada pelos governantes anteriores.

O Workshop “Promprylad – Industrial Heritage” é um de uma série de encontros, neste caso proporcionado por EVZ, MitOst e Teple Misto. A primeira parte do workshop ocorreu entre 12 e 20 de Augusto de 2017 em Ivano-Frankivsk e a segunda de 11 a 18 de outubro em Berlim. Metade dos participantes são alemães ou residem na Alemanha e a outra metade são ucranianos. No total 18 participantes: designers, artistas, urbanistas, arquitetos e pesquisadores.

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Ivano Frankivsk (2 a 20 de Agosto de 2017)

Somos a gentrificação

A curadora russo-ucraniana Maria Semenenko guiou o grupo nesta primeira etapa do workshop. Ela propôs ao grupo a realizar entrevistas com atuais e ex-trabalhadores da Promprylad, os membros da equipe da Teple Misto, e os habitantes do distrito. Em conjunto, os participantes conduziram uma pesquisa de acervo.

O grupo se separou em equipes de acordo a seus interesses: aspectos visuais de Promprylad, espaço-comum e de comunicação, sonoridade do espaço, entrevistas e outros.

Quando em Ivano-Frankivsk, alguns dos participantes perceberam a possibilidade do grupo poder ser visto como “agentes da gentrificação”. É sabido que muitas vezes, quando artistas deslocam-se para uma área industrial ,alguns anos depois esta área torna-se mais cara. Os participantes sentiram uma responsabilidade ética referente às reais funções do grupo no workshop[2].

Após alguns dias, o grupo foi então encorajado pela curadora a elaborar uma apresentação da breve pesquisa e esta seria vista por um publico no ultimo dia desta primeira parte do Workshop. Decidimos criar intervenções efêmeras e criticas e excluímos a possibilidade de criar trabalhos artísticos que pudessem ser usados de alguma maneira como “decoração industrial” no presente e futuro.

Nossa apresentação ocorreu em espaços abertos da Promprylad como uma exposição pop-up, entre outros tantos eventos do festival City Scanning Session, o qual foi curado pelo coletivo Metasitu e incluiu shows musicais, exposições, e conversas sobre urbanismo e patrimônio. Apresentamos: uma instalação composta por sinais da fabrica afixados em uma janela; uma instalação de posters com os dizeres – “Qual sera o futuro de Promprylad?”; experimentos sonoros com uso de sons das maquinas da fabrica; uma mesa improvisada com comida, bebida e domino com os atuais trabalhadores; e uma intervenção de colagem sobre painéis combinando elementos gráficos locais com fotografias históricas de trabalhadoras.

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Berlim (11 a 18 de outubro de 2017)

As reuniões do grupo aconteceram no ZKU (Zentrum für Kunst und Urbanistik), um antigo depósito ferroviário que hoje recebe artistas internacionais através de programas de residências auto-financiadas. O coordenador do projeto Miodrag Kuč conduziu o grupo. Alguns novos participantes se juntaram ao grupo neste momento, substituindo outros do primeiro grupo que não puderam estar presentes.

Através de visitas à edifícios históricos selecionados por Kuč, os participantes do workshop puderam perceber a complexidade da arquitetura e paisagem urbana berlinense. Os edifícios exibiam uma variedade de distintos usos de legados históricos. Alguns dos lugares visitados incluíram o socialmente engajado convento REFO-Moabit, uma histórica planta industrial que hoje é propriedade da multinacional Siemens, um “museu” de carros, uma antiga gráfica atualmente abrigando o espaço criativo Rota Print, dentre muitos outros.

Apesar de alguns dos espaços legados em Berlim serem atualmente objetos de aquecidas disputas entre empresas privadas e artistas[3], iniciativas culturais e espaços criativos em Berlim são consideravelmente seguros por conta de um inovador sistema de financiamento. Estabelecer uma associação registrada (e.V.—eigetragener Verein) não exige investimentos, além de ser relativamente fácil. Um e.V. paga baixos impostos e está habilitada a candidatar-se a fundos oferecidos por instituições alemãs públicas e privadas. Quando associações são estabelecidas e geram receitas, algumas delas tornam-se organizações sem fins lucrativos (GmbH—Gesellschaft mit beschränkter Haftung), qualificadas para candidatarem-se a uma maior quantidade de subsídios e fundos oferecidos não só por instituições alemãs mas também por instituições da União Europeia em geral.

A combinação de espaços de escala industrial disponíveis e suporte financeiro, somados à instituições bem estruturadas, suporte social, educação gratuita, e iniciativas antidiscriminação e pela igualdade de gêneros, são as razões para Berlim atrair profissionais criativos qualificados e investidores. A migração de profissionais criativos para Berlim é uma das razões da reconhecida diversidade cultural na cidade, em oposição à outras cidades que almejam tornarem-se capitais criativas mundiais[4].

Existem interessantes mecanismos e regras criadas ao longo das últimas décadas em cooperação com organizações da sociedade civil, a Associação Profissional de artistas visuais de Berlim (BBK – Berufsverband bildender Künstler*innen) e o governo alemão, que ajudam a trazer dignidade, dinamismo e melhores condições de trabalho para artistas e criativos. Exemplos incluem o aluguel de ateliês e co-workings por valores fixos, e o fato de que médicos e advogados podem comprar obras de arte e deduzir parte do valor investido de seus impostos. Não apenas benéficas para os artistas, estas práticas podem ainda ter um importante papel nas questões ligadas à igualdade de gêneros e à democracia em geral. Muitas universidade alemãs, por exemplo, reservam 50% das posições para profissionais do sexo feminino.

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Novo McDonald’s

McDonalds é o apelido da universidade de arte de Ivano-Frankivsk, localizada no lado oposto de Prompryland.

Quaisquer que sejam as decisões futuras tomadas a respeito de Promprylad, está claro que os valores morais precisam ser priorizados na elaboração de ideias para sua renovação. Estes valores estão relacionados não somente ao seu legado em particular mas também às políticas públicas de democratização na Ucrânia. Quais leis e regras devem permitir o crescimento econômico para criativos e o mercado da arte?

Como Promprylad pode resistir aos interesses do mercado que não servem aos cidadãos? Como o futuro do edifício pode refletir os interesses de gerações maduras e jovens? A implementação de espaços criativos é a melhor forma de lidar com um legado tão importante para a memória coletiva e identidade como é o caso de Promprylad?

Considerando estas questões, Promprylad tem o potencial de tornar-se uma universidade de gestão cultural, pesquisa urbana, arte e design: capaz de valorizar e resgatar antigas práticas sustentáveis e desenvolver e modernizar atividades como a tipografia, a arte têxtil ucraniana ou a cerâmica.

Promprylad Workshop

ETC.

https://www.theguardian.com/cities/2017/oct/26/gentrification-richard-florida-interview-creative-class-new-urban-crisisa>

https://www.facebook.com/promprylad.renovation/

NOTAS DE RODAPÉ

[1]          http://www.prylad.com.ua

[2]          https://www.theguardian.com/commentisfree/2015/sep/28/hipsters-property-developers-gentrification-cereal-killer-cafe

https://www.theguardian.com/cities/2014/may/23/demise-creative-class-regeneration-gentrification-city-links

[3]          https://news.artnet.com/art-world/berlin-uferhallen-studios-sale-1063823; http://www.artnews.com/2017/11/10/2017-preis-der-nationalgalerie-finalists-speak-awards-practices/

[4]          https://news.artnet.com/market/which-cities-are-best-for-artists-333760

* As imagens que integram essa publicação foram produzidas durante o workshop Promprylad, por Duane Bahia Benatti.

Duane Bahia Benatti, São Lourenço MG, 1983, vive e trabalha em Halle, Alemanha. Graduado em Artes Visuais pela FAAP em 2010, São Paulo, atualmente mestrando em Ceramica pelo Burg Giebichenstein, Halle. Em 2013 recebeu o prêmio da Mostra de arte da juventude do SESC Ribeirão Preto. Em 2012 foi contemplado com a Beca de Arte da Fundación Tres Pinos de Buenos Aires. Recentemente teve trabalhos e projetos selecionados para coletivas incluindo International Ceramics Trienale Unicum, Liubliania, Eslovenia; Talente Preis, Munique, Alemanha; e Bienal de Artes de Cerveira, Portugal.