Aufhebung é um espetáculo do projeto audiovisual HOL, idealizado por Henrique Roscoe (aka 1mpar) em 2009. Nele, o artista desenvolve, em som e imagem, questionamentos a partir do termo filosófico Aufhebung, utilizado por Hegel em sua Fenomenologia do Espírito.
Este termo, que tem significado dúbio mesmo na língua original, pode ser traduzido como cancelamento e manutenção de algo existente. É, ao mesmo tempo, afirmação e negação; ser e não ser. Hegel o utiliza para ilustrar o processo de desenvolvimento de todas as coisas, através da tríade tese/antítese/síntese. Aufhebung seria o processo de evolução no qual coexistem forças positivas e negativas; um processo dialético que carrega elementos de uma situação inicial e do seu oposto, permitindo ao resultado ter características de ambas as partes e, ao mesmo tempo, diferir destas.
A apresentação de 30 minutos traz reflexões sobre este tema usando imagens abstratas e sons, ambos gerados em tempo real pelo artista, através de instrumentos customizados construídos em software e uma interface com sensores, potenciômetros e faders através da qual a performance será executada. Esta interface, que foi construída pelo artista, possibilita ao público uma percepção mais apurada do que está sendo executado em função da correspondência entre movimentos no palco e o resultado imediato em imagem e som.
Som e imagem
Nesta performance, cada elemento sonoro e visual tem uma relação intrínseca com o tema. As frequências puras do início simbolizam os primeiros estágios de evolução. Eles são elementos chave a partir dos quais tudo é gerado. Na imagem, pontos e linhas brancas (o branco sendo a potencial soma de todas as cores) começam a evoluir a partir de uma tríade que vai gerar todo o resto. Como sons complexos que são compostos de várias frequências e harmônicos, a imagem é composta de formas que podem ser reduzidas ao elementos básicos que a compõem. A complexidade dos sons e imagens evoluem no decorrer da composição, começando por notas, frequências e imagens puras formadas por pontos e linhas, até harmonias e ritmos mais complexos e, na parte da imagem, formas tridimensionais e cores.
Esta composição sai do padrão musical convencional usando elementos fora da escala ocidental. Ao invés de notas musicais, são usadas frequências. Como estas existem em número infinitamente maior que as notas musicais tradicionais, o número de possibilidades e extremamente amplificado.
O áudio é dividido em cinco canais, inserindo o espectador em um ambiente virtual onde sons vêm de todas as direções, sincronizadas com o movimento das imagens. Também é explorado o uso de frequências subgraves, abaixo de 100Hz. Estas, além de ouvidas, podem também ser sentidas fisicamente pelo público. Seu uso, ligado ao conceito da performance, possibilita novas formas de transmitir o conceito da composição.
No lado visual, os elementos são gerados em tempo real, através de algoritmos. Não existem loops pré-gravados ou imagens filmadas; tudo é gerado em tempo real, no computador, através de programações específicas pensadas de forma a criar uma relação direta com o tema.
Imagens em alta resolução são outra característica desta performance. Geradas em alta resolução, elas têm uma alta definição, bem acima do padrão SD normalmente usado nas performances audiovisuais ao vivo.
Interface
Para esta performance, uma interface interativa composta de sensores e LEDs foi criada e construída pelo artista, a qual, além de acrescentar novas formas de performance, permite que o público tenha um melhor entendimento das ações feitas. Ao mover cada uma das ‘tampas’, um parâmetro de som e/ou imagem é modificado. Desta forma, o espectador pode ver o que está sendo tocado durante o show.
A necessidade desta visualização veio do fato que performances executadas em laptops não dão ao público uma noção do que está realmente sendo tocado. O artista pode estar fazendo várias ações ou apenas apertando um botão para tocar um vídeo inteiro e quem está assistindo na maioria das vezes não consegue perceber a diferença. Com esta interface, todos os movimentos são vistos pelo público como em um instrumento convencional como a guitarra, bateria, etc. A interface é constituída de quatro sensores de distância, dois sensores de torção e quatro LEDs. Os sensores de distância que estão posicionados na base do instrumento variam seus parâmetros de acordo com a altura da tampa de cada cilindro. LEDs, também posicionados na base, mostram suas cores (vermelho, verde, azul e branco) quando as tampas são levantadas. Sensores de torção, como o nome diz, variam ao serem tensionados de um lado para o outro.
Henrique Roscoe é artista audiovisual, músico e curador. Graduado em Comunicação Social (UFMG) e Engenharia Eletrônica (PUC/MG), Especialista em Design e Cultura (FUMEC) e Mestre em Poéticas Tecnológicas, pela Escola de Belas Artes da UFMG. É professor do curso de Cinema de Animação e Arte Digital da Escola de Belas Artes da UFMG. Desde 2004, explora caminhos da arte generativa e visual music; investigando as relações entre som, imagem e narrativas abstratas simbólicas. Desenvolve instalações interativas, programando em max/msp e vvvv e cria instrumentos e interfaces interativas usando sensores e objetos do cotidiano. Com o projeto HOL apresentou-se no Sónar, FILE, ON_OFF, Live Cinema, Multiplicidade e FAD, no Brasil, e também na Inglaterra (NIME, ICLI, Encounters), Alemanha (Rencontres Internationales, Spektrum), França (Bains Numériques), Polônia (WRO Biennale), Escócia (Sonica), EUA (Gameplay), Grécia (AVAF), Itália (LPM e roBOt), México (Transitiomx), entre outros. Trabalha com curadoria em arte digital, tendo participado de eventos como FAD – Festival de Arte Digital, Visualismo, Festa das Luzes e Festival Marte.