Setembro 2023 | Parcerias Interespécies e questões ambientais

A mostra  no. 12 do acervo HIPOCAMPO  traz uma seleção de obras  que dialogam com alguns conceitos: ecologia, extrativismo, economia e desenvolvimento sustentável, parcerias multiespécie e interespécie, co-presenças, existências mundanas, práticas de cuidado e devires.

Como artistas, estamos acostumados a nos apropriar de máscaras e fazeres e nomenclaturas vindas de outras áreas. Ao nos posicionarmos no mundo por meio do  acoplamento junto a uma diversidade de seres, materialidades e paisagens, podemos forjar viagens geológicas e ficcionalizar vidas futuras que possam nos mostrar possibilidades de sobrevivência ou nos trazer a consciência da finitude. Parece que com isso nos movemos melhor pelo mundo, mudando, por assim dizer, de corpo. Perdendo, aos poucos, a nossa forma humana. Provavelmente, é essa maleabilidade que nos aproxima das qualidades não-humanas presentes nos fungos, nas plantas, nos animais. Os monstros, também, nos proporcionam múltiplas visões de existência.

Em um mundo finito, de futuro queimado, onde reina a entropia, pensar a ruína é mesmo um método aberto. Quem vai nos ensinar a viver nos e dos escombros, afinal? A pedra? A fina camada de biopátina sobre o cimento? As formigas? Os morcegos? O personagem Woyzeck, do dramaturgo alemão Georg Büchner, é um homem que afirma que “quando a natureza apaga é quando a natureza apaga. Quando o mundo fica tão escuro que a gente tem que tatear com as mãos, a gente pensa que a natureza se desfaz como uma teia de aranha.” É o mesmo personagem adoentado (enlouquecido pela sua sociedade) que alerta toda a ciência incrédula para o fato de que os cogumelos sabem algo que não entendemos ainda: “O senhor já viu as figuras que os cogumelos fazem quando crescem? Ah, se a gente pudesse ler!”

A interdependência das muitas espécies que habitam o planeta é já uma ideia aceita pela maioria, o que não impede que práticas destrutivas continuem sendo realizadas diariamente. Temos tempo? Alguns cientistas e pensadores dizem que não.  O que a arte pode dizer ou traduzir das respostas silenciosas que as outras espécies nos proporcionam? Claro, se elas estão tentando nos dizer algo. Talvez sejam indiferentes… à finitude? Pelo menos à finitude humana? Existem filmes em que a natureza se revolta. Também existem gravações em pixel das catástrofes ocorrendo em tempo real.

Seria mais sensato inverter a pergunta. Que perguntas podemos direcionar ao que realmente se manifesta no mundo que compartilhamos? Como podemos interrogar os fenômenos da vida e transformá-los em reflexões e ações de mudança?

Marina Mayumi e Sofia Bauchwitz

Curadoras da mostra #12 do acervo HIPOCAMPO