Disjunção

A partir da distância mínima de 1,50m entre corpos, estabelecida para os tempos atuais, me aproprio de metros de medição usados em construção civil, ligo uns aos outros, apago seus números e escrevo um texto, uma letra a cada meio centímetro, que fala desse distanciamento social, porém pessoal, entre você e o seu outro. Quando não temos uma companhia em casa na quarentena, que nos diferencie enquanto singularidade, é tempo de se aproximar de nós mesmos, e se descolar do seu outro no qual você sabe que não é. Somente quando estamos de frente a nós mesmos, percebemos o outro que não somos. Me despeço assim, de um outro que uma vez fui.

Texto escrito no trabalho:

nas epidermias das dimensurasões o corporoso abandornado entretem desinfriccionando o eu do outro entrecortando o seu e o oposto templo apostólico apóstrofo que separa para enfim conceber nova dist ância que afastasas os tolos após a o missão dos doze algozes o conjuramento dos propagadolores não mais são dignos de auscultações atalhado pelo inflamicídio dos dias arvoararam bactericendo as asas

Disjunção, 2020

metros de medição unidos

25cm X 150cm X 1cm

* Disjunção foi produzido durante o período de isolamento social – imposto pela pandemia do Covid-19 – para a convocatória Metro y medio de distancia da galeria KIOSKO, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. A versão de Disjunção publicada no HIPOCAMPO #8 é inédita, assumindo formato e configuração diferentes, além da inclusão de novas imagens.

Alexandre Silveira, São Roque SP, 1979, vive e trabalha em Campinas SP. Graduado em Arquitetura e Urbanismo, desde 2010 trabalha como artista visual. Em 2016 participou dos festivais da Galeria Trapiche em São Luís do Maranhão e da Galeria Elétrica em Belém do Pará, e do Salão de Arte de Rio Claro. Em 2015 participou do Festival PERFORMANCE do SESC Campinas, da Trienal de Artes do SESC Sorocaba, sendo convidado para uma residência artística no espaço ChãoSLZ em São Luís do Maranhão. Em 2014 foi premiado no Salão de Artes de Vinhedo e no Salão Contemporâneo de Araras além de participar do 41º Salão de Arte Contemporânea de Santo André.