Via de mãos dadas, n.º 1, 2008
Vídeo 28’
Ação: Tiago Rivaldo e Fernando Klipel
Câmera: Gustavo Pessoa/Leo Nabuco
Praia do Flamengo, Rio de Janeiro. EXTERIOR. DIA.
Um amigo e eu unimos duas bicicletas, utilizando a mesma roda traseira. Pedalamos em sentidos opostos, ora levando ora cedendo, em busca de um certo equilíbrio, mesmo que momentâneo. Dois pra lá, dois pra cá. A insistente tentativa cria uma quase dança.
Via de mãos dadas, n.º 2, 2010
Vídeo em loop
Ação: Tiago Rivaldo e Renato Pimentel
Câmera: Gustavo Pessoa
Edição: Alice Ripoll
Parte da Coleção Miguel Chaia.
Santa Teresa, Rio de Janeiro. INTERIOR. DIA.
Eu e Renato fazemos bolhas de sabão com nossas próprias bocas nos encarando frente-a-frente, de perfil para a câmera. As bolhas produzidas por um destroem as do outro com um simples toque. Em alguns momentos se transformam em uma só que passa a ser preenchida por ambos até que sua fina pele estoure e se reinicie o processo.
Trechos do texto de Bernardo Mosqueira, extraídos do catálogo da mostra individual de Tiago Rivaldo Eu e Outros Nós:
(ao meu amor)
“Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino.
Eu pus os meus pés no riacho.
e acho que nunca os tirei.”
“Lá longe era o mundo
åquela hora coberto de sol.
Mas haveria sol?
Boiávamos em luar. O céu,
uma difusa claridade. A terra,
menos que reflexo dessa claridade.”
“Eu perguntava, do you wanna dance?”
Via de mãos dadas, n.º 1
Em Amsterdam, no ano de 2004, após ter lançado um longa em que criticava o modo como a mulher é tratada na cultura islâmica, foi assassinado o diretor de cinema Theo Van Gogh por um muçulmano marroquino holandês. Tiago estava na cidade quando a população foi às ruas com tochas cobrar uma política do Estado em relação aos imigrantes e seu modo de ocupar a cultura local. Na cidade onde todos são ciclistas, surge, em Rivaldo, o questionamento de como dividir espaço (físico ou interno) de forma justa, horizontal, sem hierarquias.
Depois de três anos estudando e repensando o trabalho, Tiago constrói a “bike”: objeto que é construído utilizando duas bicicletas que compartilham a roda traseira. O objeto, que remete à ideia de cabo de guerra e emana tensão, conflito, impossibilidade, luta e discórdia, precisa de seu uso como ação para que tudo possa ser colocado de outra forma.
Diferente do que se imagina ao olhar o objeto, ele, de fato, pode ser utilizado. A roda central foi reforçada de modo a não se deformar pelo peso, pela tensão e pelas torções do encontro. Essa bicicleta, porém, não serve para sair de um lugar e ir a outro: o grande movimento no/do/pelo trabalho é interno. No processo de aprender a andar com essa nova bicicleta (quando ter controle, dar controle, ceder, sentir e se fazer sentido se mostram imprescindíveis), o pensamento, o equilíbrio, a força e a respiração conectados aos do outro colocam os participantes numa experiência que se constrói como a emergência de uma grande metáfora das relações.
* O vídeo Via de mãos dadas, n.º 1 foi produzido para a individual de Tiago Rivaldo, realizada no Ateliê Aberto (Campinas/SP) em 2008, depois de ficar “uns três ou quatro anos em órbita”, nas palavras do artista. Também foi apresentado na coletiva Sobrecidade, em 2009 no Museu Nacional – Brasília; e em 2012, na individual Eu e Outros Nós, na Galeria IBEU, Rio de Janeiro/RJ. Via de mãos dadas, n.º 1 também circulou como objeto de arte e como performance nas coletivas Abre Alas, na A Gentil Carioca, no Rio de Janeiro/RJ (2008); SPA das Artes, em Recife/PE (2008); Trepa Trepa no Campo Expandido, na SP Arte, em São Paulo/SP (2012); e Encruzilhada, no EAV Parque Lage, Rio de Janeiro/RJ (2015).
O vídeo Via de mãos dadas, n.º 2 foi produzido para a exposição coletiva Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome, realizada em uma casa no bairro Jardim Botânico (RJ) em 2010, depois do artista contar para o curador, Bernardo Mosqueira, sobre alguns estudos que vinha realizando. Foi apresentado em diversas outras exposições coletivas:
2010 – Com Afeto, Rio. – Galeria Oscar Cruz – São Paulo/SP
2010 – Sessão Corredor – Ateliê 397 – São Paulo/SP
2010 – Bienal de las Américas – Mi cuerpo es un arma – Denver – Colorado – EUA
2010 – Mi cuerpo es un arma – Museo Ex-Teresa Arte Actual – Ciudad de México/Mexico
2010 – Arte Pará – Belém/PA
2013 – Bota na Roda #2 – Comuna – Rio de Janeiro/RJ
2013 – Sessão Saliva – Projeto Comestível – Ateliê Aberto – Campinas/SP
2014 – Primeiro Estudo: sobre amor – Galeria Luciana Caravello – Rio de Janeiro/RJ
2014 – Bota na Roda Além Mar – Galeria ZDB – Lisboa/Portugal
2015 – Encruzilhada – EAV Parque Lage – Rio de Janeiro/RJ
Tiago Rivaldo (Porto Alegre, 1976). Vive no Rio de Janeiro desde 2001, onde desenvolve seus projetos em Arte e trabalha em produções de Cinema. Estudou Comunicação na PUCRS (1993-1996) e Artes Visuais (1997-2001) na UFRGS, quando participou do Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural. De 1998 a 2002 formou o Clube da Lata, coletivo que explorou a câmara obscura como instrumento poético, com o qual participou da 27º Panorama da Arte Brasileira (2001). Em 2011 participou do Programa Aprofundamento da EAV Parque Lage. É um dos criadores do coletivo Bota na Roda, que em 2013-2014 produziu festas com intervenções de arte contemporânea. Trabalha com foto e vídeo associados a operações relacionais que pretendem comentar sobre o eu-outro e o ser-estar. Participou da 9ª Bienal do Mercosul, em 2013. Entre 2016 e 2019 dedicou-se à BOCA, espaço de arte e convivência no Centro do Rio de Janeiro. Atualmente faz parte do coletivo Água de Beber, que viabiliza pontos públicos de fornecimento de água potável.