Certamente uma das mais interessantes zonas para exploração no HIPOCAMPO é a diversidade dos conteúdos que arquiva e difunde, em seus temas, linguagens e suportes. Outro campo de desejo do HIPOCAMPO é a reativação de conteúdos que carreguem dados históricos, testemunhos de um tempo do qual não lembramos ou não vivemos. Ao longo dos últimos meses me dediquei a expandir e pluralizar o grupo de colaboradorxs e nosso acervo.
A edição #5 chega a você caliente, reunindo textos, vídeos, colagens, desenhos e pinturas de Alexandre Silveira, Jurandy Valença, Lucila Vilela, Paloma Klis(ys) e Tiago Judas, e dxs estreantes Daniela Brilhante, Divino Sobral, Henrique Roscoe, Mariela Cantú e Ricardo Basbaum. Uma particulariade desta edição é a presença marcante de conteúdos inéditos: temos Daniela Brilhante com suas colagens digitais, Jurandy Valença falando da nova exposição do Leonilson, ainda em cartaz, e Alexandre Silveira com um texto que integra sua próxima exposição.
Para te colocar no clima da edição, começamos com Razizr, projeto de Paloma Klis(y)s que explora o impacto poético e sensorial a partir do contato com raízes urbanas: uma entrega ao desejo de navegar intuitivamente ao encontro de outras possibilidades estéticas na contra-mão do embrutecimento das sensibilidades. A #5 traz o registro de um dos laboratórios de criação em lugares públicos, ou interferências urbanas, realizado no Rio de Janeiro em 2015, em colaboração com Flávia Spinardi e Glaucus Noia. De 23/05 a 23/06, a videoinstalação inédita Razizr estará exposta na Casa da Luz, em São Paulo/SP. Na abertura, serão projetadas imagens de diversos momentos do processo de criação de Razizr, com a participação do bailarino João Pirahy.
Daniela Brilhante debuta no HIPOCAMPO com seus inéditos Pós-humanos: colagens digitais hiper coloridas produzidas a partir de pensamentos dos escritores e teóricos do pós humanismo filosófico Woody Evans, Cary Wolfe e Pramod K. Nayar. No entanto, enquanto a abordagem filosófica do pós humanismo diz respeito à integração homem-máquina, ciborgs, ética dos replicantes, dentre outros conceitos, as ilustrações de Daniela desvelam sua própria fantasia de futuro, quando a espécie humana fundiria-se ao restante da natureza na tentativa de sobreviver.
PESCOÇØ é o segundo caderno do artista Tiago Judas publicado no HIPOCAMPO. Reunindo pinturas em acrílica e desenhos em aquarela, nanquim e lápis grafite, realizados em 2018, PESCOÇØ mescla retratos do cotidiano, pensamentos soltos e crítica social, e é parte de estudos do artista para o desenvolvimento de uma história em quadrinhos na qual já trabalha no roteiro e desenhos há 8 anos.
Jurandy Valença fala da exposição Leonilson: arquivo e memória vivos, no texto inédito A Volta do Filho Pródigo. Quase 25 anos depois de sua primeira grande individual, São Tantas as Verdades, realizada no mesmo local, a nova exposição, que fica em cartaz até maio, reúne mais de 120 obras, várias delas inéditas, entre pinturas, desenhos e bordados. Com curadoria de Ricardo Resende, é resultado da pesquisa e publicação do catálogo raisonné do artista, lançado em 2017.
Em O Peso da Terra, texto inédito de Alexandre Silveira, um apóstata vaga pelo deserto em busca de esvaziar-se, acreditando na liberdade que isso lhe trará. Porém, no caminho, ou no não-caminho, é atormentado por vozes que o perseguem e ressoam dos livros que carrega. O texto é desdobramento de um vídeo que será exibido na exposição O Peso da Terra, aberta para visitação entre 12 de abril e 17 de maio de 2019, em Campinas, no Museu da Cidade.
Sobre En-Terrar, de Ana Bravo Pérez, primeira publicação de Mariela Cantú no HIPOCAMPO (em castelhano), traz reflexões em torno do vídeo da artista colombiana, concebido como um autorretrato que expõe duas importantes questões: como casar as dimensões do eu e do coletivo, e como referir-se ao ausente, ou seja, à morte. O texto de Mariela Cantú é acompanhado pelo vídeo de Ana Bravo Pérez.
Divino Sobral estréia no HIPOCAMPO #5 com Arrasto: memória submersa ou retida nas margens do rio que corre para o interior, texto sobre a obra Arrasto, de Marcelo Moscheta. Ao longo de sua trajetória, Moscheta vem assumindo a antiga personalidade do artista explorador, cientista e arquivista e, em Arrasto, soma-se a figura do explorador bandeirante, quando o artista coloca-se em expedição pelas margens do rio Anhembi.
Degelo é um vídeo-registro que mescla duas versões de uma mesma performance audiovisual de Henrique Roscoe: a primeira realizada em 2015 em Belo Horizonte; e a segunda realizada em São Paulo, em 2018, quando o projeto teve sua programação atualizada e as imagens e sons passaram a ser produzidos por um instrumento especial, criado pelo artista.
Em Paula Garcia “Noise Body #8”, Lucila Vilela faz uma breve reflexão em torno da performance #8 da série Corpo Ruído, da artista Paula Garcia. Parte da exposição The artist is an explorer, curada por Marina Abramovic e realizada na Beyeler Foundation, em Basel, Suíça, a performance testa os limites do corpo da artista que, vestindo uma armadura magnética, é submetida a um “ataque” massivo de peças metálicas voadoras. O texto de Lucila Vilela é acompanhado pelo vídeo de Paula Garcia.
A seção A Cena de Arte Auto-organizada, lançada na última edição, traz uma importante fala acerca da atuação do artista contemporâneo que extrapola sua função tradicional de criador de obras de arte: dedica-se também a fomenter, agenciar e produzir outros eventos, envolvendo outros artistas e criadores. Escrito em 2002 pelo artista e estreante no HIPOCAMPO Ricardo Basbaum, foi originalmente publicado em um catálogo do CEIA, uma iniciativa independente de artistas sediada em Belo Horizonte.
Maíra Endo
Editora-curadora do HIPOCAMPO