Paula Garcia – #8 (da série Corpo Ruído), 2014, vídeo extraído do canal de Paula Garcia, no Vimeo.
Performance realizada em 20/09/2014, parte da exposição “The artist is an explorer”, curada por Marina Abramovic, na Beyeler Foundation, Basel, Suíça.
Duração: 6 horas.
“O corpo é o lugar onde o mundo é questionado.”
David Le Breton
Provocar ruídos. Aguentar o peso. Suportar a violência de ser atacada com uma passividade dura. A força interna sustenta o corpo, compacto, fechado em uma armadura traiçoeira. Ao mesmo tempo em que protege, essa armadura atrai. E o campo magnético que se forma em torno do espaço neutro carrega aspereza e rigor. O corpo resiste. Durante horas, o corpo resiste.
A performance #8 da série Corpo Ruído de Paula Garcia começa com um desafio: a preparação de quatro horas totalmente solitária, concentrada em seu propósito, conduz a artista à outro estado mental. Logo quatro colaboradores entram em cena vestindo-a com sua armadura magnética, para em seguida sofrer um ataque de pedaços de ferro e pregos, lançados com força e determinação. O som amplificado produz maior impacto. A ação violenta dura um bocado de tempo e cessa com o desequilíbrio, evidenciando os limites do corpo. Se desfaz com a mesma intensidade. Os colaboradores retiram os ímãs, despindo a armadura, mostrando o ser humano, uma mulher, artista, submetida à essa ação de resistência, determinada por forças múltiplas.
Tais forças que desestabilizam a estrutura do corpo colocam questões que vão além do visível. Forças físicas e psíquicas, políticas e sociais são evocadas na ação que trabalha com a noção de agressão e perseverança. A dualidade provocada por certas armadilhas denota uma fragilidade. O que ataca, protege. O que protege, destrói.
* Conteúdo publicado originalmente na plataforma Interartive em 2016 (https://interartive.org/2016/02/paula-garcia/).
** A imagem da chamada é um still do vídeo “Paula Garcia – #8 (da série Corpo Ruído)”, extraído da revista Select.
:::
Performance held on 20/09/2014, as part of the exhibition “The artist is an explorer”, curated by Marina Abramovic, at Beyeler Foundation, Basel, Suíça.
Duration: 6 hours.
“The body is the place where the world is questioned” David Le Breton
Making noise. Sustaining weight. Enduring the violence of being attacked with a hard passivity. Inner strength sustains the body, compact, enclosed in a treacherous armor. At the same time it protects, that armor attracts. And the magnetic field formed around the neutral space, charges it with harshness and rigor. The body resists. For hours, the body resists.
Performance # 8 of the series Corpo Ruído by Paula Garcia begins with a challenge: preparing for four solitary hours leads the artist, concentrated in her objective, to another mental state. Then, four collaborators enter the scene and dress her with magnetic armor so that soon enough she suffers a magnet attack, launched with strength and determination. The amplified sound produces greater impact. The violent action lasts a while and ceases with imbalance, showing the limits of the body. It becomes undone with the same intensity. The collaborators remove magnets, removing armor, showing the human being, a woman, artist, subjected to the action of resistance determined by multiple forces.
Those forces that destabilize the structure of the body highlight issues that go beyond the visible. Physical and psychological, political and social forces are evoked in the action, which works with the notion of aggression and perseverance. The duality caused by certain pitfalls denotes fragility. What attacks, protects. What protects, destroys.
* Content published originally at the platform Interartive in 2016 (https://interartive.org/2016/02/paula-garcia/).
** The image from the call is a still from de video “Paula Garcia – #8 (da série Corpo Ruído)”, extracted from Select magazine.
:::
Performance ocurrida en 20/09/2014, parte de la exposición “The artist is an explorer”, curada por Marina Abramovic, en la Beyeler Foundation, Basel, Suiza.
Duración: 6 horas.
“El cuerpo es el lugar donde el mundo es cuestionado” David Le Breton
Provocar ruidos. Aguantar el peso. Soportar la violencia de ser atacada con una dura pasividad. La fuerza interna sostiene el cuerpo, compacto, encerrado en una
armadura traicionera. Al mismo tiempo que protege, esa armadura atrae. Y el campo magnético que se forma en torno al espacio neutro, carga consigo aspereza y rigor. El cuerpo resiste. Durante horas, el cuerpo resiste.
La performance #8 de la serie Corpo Ruído de Paula Garcia empieza con un desafío: la preparación para cuatro horas totalmente solitarias conduce a la artista, concentrada en su propósito, a otro estado mental. Luego, cuatro colaboradores entran en escena y la visten con su armadura magnética para que, en seguida, sufra un ataque de trozos de hierro y clavos, lanzados con fuerza y determinación. El sonido amplificado produce mayor impacto. La acción violenta dura cierto tiempo y cesa con el desequilibrio, evidenciando los límites del cuerpo. Se deshace con la misma intensidad. Los colaboradores retiran los imanes, quitando la armadura, mostrando al ser humano, una mujer, artista, sometida a esa acción de resistencia, determinada por fuerzas múltiples.
Esas fuerzas que desestabilizan la estructura del cuerpo ponen de relieve cuestiones que van más allá de lo visible. Fuerzas físicas y psíquicas, políticas y sociales se evocan en la acción, que trabaja con la noción de agresión y perseverancia. La dualidad provocada por ciertas trampas denota fragilidad. Lo que ataca, protege. Lo que protege, destruye.
* Contenido publicado originalmente en la plataforma Interartive en 2016 (https://interartive.org/2016/02/paula-garcia/).
** La imagen de la llamada es un still del video “Paula Garcia – #8 (da série Corpo Ruído)”, extraído de la revista Select.
Lucila Vilela é artista visual e pesquisadora. Doutora em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2017). Mestre em Estudos Avançados em História da Arte, pela Universidade de Barcelona (2008). Graduada em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2001). Realizou o Projeto CASA, de Artes Visuais e Performances, nas cidades de Florianópolis/SC (2010) e Joinville/SC (2014) com o prêmio Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, da Fundação Catarinense de Cultura. Co-editora da Revista Digital InterArtive: Contemporary Art and Thought (www.interartive.org). Vive e trabalha em Florianópolis-SC.