É como diz aquele velho provérbio popular “o bom filho à casa torna”. Nesse caso é um retorno literal. A Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp abriga até maio a mostra Leonilson: arquivo e memória vivos, que reúne mais de 120 obras, várias inéditas, entre pinturas, desenhos e bordados, muitas delas pertencentes à coleções particulares e institucionais, raramente ou nunca antes vistas em São Paulo.
Foi esse mesmo local, em 1995, na época chamada de Galeria de Arte do Sesi, que sediou a primeira grande individual de Leonilson, a antológica mostra São Tantas as Verdades, organizada por Lisette Lagnado. A exposição, já realizada em Fortaleza, desembarca em São Paulo com curadoria de Ricardo Resende, e é resultado da pesquisa e publicação do catálogo raisonné do artista, lançado em 2017.
Um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira, o cearense radicado em São Paulo José Leonilson (1957-1993) é autor de uma obra autobiográfica e singular, de uma intensidade e delicadeza profunda, formada por um vocabulário visual muito particular. Nela, os sentimentos, a sexualidade e as relações amorosas transbordam em palavras, frases, rios, cachoeiras, montanhas e vulcões para refletir sobre a condição humana.
De caráter retrospectivo, tal como no catálogo raisonné, a exposição divide-se em três núcleos cronológicos, acompanhando a carreira do artista: anos 1970, anos 1980 e os anos 1990 (Leonilson faleceu jovem, aos 36 anos de idade, em decorrência da Aids). Sua obra é preservada pelo Projeto Leonilson, associação comandada pela família do artista, que cataloga sua obra e promove exposições em parceria com diversas instituições. Leonilson deixou cerca de 3.400 obras, além de múltiplo acervo documental.
Da sua fase inicial, a exposição traz, por exemplo, o primeiro trabalho do artista de que se tem conhecimento: uma pintura sem título, datada de 1971, que traz o desenho de um peixe. Leonilson tinha apenas 14 anos quando pintou a tela em acrílica. O público ainda poderá ver em looping, o média-metragem “Leonilson, sob o Peso dos Meus Amores”, de Carlos Nader, que traz entrevistas com figuras próximas ao artista, entre as quais a irmã Ana Lenice da Silva, a amiga e artista Leda Catunda, e os curadores Adriano Pedrosa, Lisette Lagnado e Ricardo Resende.
De quebra os admiradores e colecionadores da sua obra terão a chance de ter um trabalho inédito do artista, de edição póstuma. Por ocasião da exposição será lançado e comercializada pelo Projeto Leonilson uma linoleogravura sobre papel japonês, com 100 exemplares numerados.
Serviço:
Exposição Leonilson: arquivo e memória vivos
Período expositivo: até 19 de maio de 2019
Horários: de terça a sábado, das 10h às 22h e domingos, 10h às 20h
Local: Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp
Endereço: Avenida Paulista, 1313 – Cerqueira César (em frente à estação Trianon-Masp do Metrô)
Agendamentos escolares e de grupos: ccfagendamentos@sesisp.org.br
Entrada gratuita. Mais informações em www.centroculturalfiesp.com.br
O Inconformado (detalhe), 1987
Sapatinhos com montanha de sal, 1991
O peão (detalhe), 1987
The state of the things (detalhe), 1987
Truth; Fiction (detalhe), 1990
Bebedor de Sangue, 1992
Não tenha medo meu rapaz (detalhes), 1988
O que ele está fazendo (detalhe), 1986
Jurandy Valença é alagoano, morou e trabalhou em São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro. Atualmente é radicado em São Paulo (SP). Artista visual, curador, jornalista e poeta, morou e trabalhou com a escritora e poeta Hilda Hilst entre 1991 e 1994, publicou um livro de poesia em 1992, e trabalhou com moda no extinto Phytoervas Fashion, no qual foi coordenador de produção. Desenvolve trabalhos em fotografia desde 1998. Participou de mais de 75 exposições, entre individuais e coletivas, nas quais recebeu três prêmios aquisições; realizou cerca de 15 curadorias e foi tema de Documentário exibido na TV Sesc-Senac. Possui obras em acervos públicos e em coleções particulares. Colaborou para diversas revistas como Caros Amigos, Harper’s Bazaar, Select, Bamboo, Dasartes e Mag!, entre outras, escrevendo sobre artes, arquitetura, design e literatura. Foi coordenador da Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo, entre 2007 e 2010, diretor de projetos do Instituto Hilda Hilst entre 2012 e 2014, e curador da galeria online www.conectearte.com.br. Foi coordenador geral dos Centros Culturais e Teatros da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, redator do Mapa das Artes São Paulo por 16 anos e diretor adjunto do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Atualmente realiza curadorias para o Atelier Paulista e para a Fundação Mokiti Okada. É colaborador de arte e cultura na plataforma Bemglô, e na revista Continente.